junho 28, 2009

PARA COLORIR

Fala-se tanto em meios de obtenção da felicidade. Fortuna fácil é vendida em sonhos de único ganhador na Mega-Sena. Livros receituários do sucesso são expostos nas bancas e livrarias. Inúmeros programas no rádio e na TV discutem as fórmulas para a felicidade. Convites para palestras lotam a caixa de entrada de e-mail. Verdadeira pirotecnia dos novos tempos.
São tempos construídos sob o império da mídia que dita a urgência da vida.
Conceito igualmente lembrado pela Martha Medeiros no seu excelente "Trem-Bala", algumas vezes a vida pede menos urgência para que possamos perceber que estamos vivos e essa consciência de vida possibilite encontrar satisfação naquele fato.
Porque a vida sem prazer - assim como casamento sem amor - pode parecer bom para os outros. E disso não passa.
Acelerar o tempo todo enquanto seguimos a estrada da vida impede que apreciemos a paisagem.
Comida sem tempero lembra massa disforme difícil de engolir.
Bebida sem gosto tem sabor de água.
Atos compulsórios que se repetem cotidianamente pecam pela ausência de espontaneidade.
Guiados pelo fazer o que não queria, viver bem socialmente, parecer aquilo que não se é, agradar os outros, naturalmente nos desgrenhamos do essencial e esquecemos quem realmente somos, porque agimos tal como agimos, o que esperamos obter da vida... nesse contrair e expandir da vida nos perdemos de nós mesmos, desviamos dos nossos ideais, esquecemos de viver enquanto ingenuamente acumulamos - sobre os nossos ombros - uma enormidade de compromissos financeiros, hereditários e sociais.
Até o dia em que acordaremos em pleno oceano envoltos por duas correntes contrárias. Uma deseja que aceitemos aquilo que não somos mas com o que já nos acostumamos. Corrente divergente daquela clama por rebelião, reforma, naturalidade para o reencontro daquilo que realmente caracteriza nossa essência e dane-se todo o resto.
Apesar de multimídia, as fórmulas para a alheia felicidade não são infalíveis. Dependem de escolhas sinceras e individuais. Então que prossiga a oferta de sonhos nas agências lotéricas, livros nas bancas, vozes saindo do rádio, imagens de sucesso abarcadas pelos holofotes transmitidos em plasma ou LCD, venham os convites de palestras a lotarem as caixas de e-mail. Tudo isso pode ser útil ou completamente inútil.
No final, ser ou não feliz se resume ao reencontro - bem ou mal feito - de nós mesmos com os nossos ideais, anseios e desesperos numa quase sempre dolorosa busca pelo prazer que não se obteve por não compreender que, mais do que de uma frenética e deselegante urgência, a vida necessita ser saboreada.
Ninguém degustará o bocado que nos pertença. Cheios ou vazios de teorias, nós é que acabaremos - de modo consciente ou displiscente - realizando as escolhas que gerarão - cedo ou tarde - aqueles frutos aos quais teremos direito. Se o plantio é incerto, a colheita é certa; bem por isso, preferível encarar a vida como rascunho feito a lápis, cabendo a cada um de nós colori-la da melhor forma que nos pareça sem acatar tanto as vontades alheias, desprestigiando as opiniões formalmente corretas e - correndo todos os riscos - fincar posições concretas, maduras, responsáveis ou não, mas sempre coroadas pela emoção do sentir, querer e buscar o prazer de viver, aquele prazer que vai além das aparências, ultrapassa a fronteira do social, não nasce pronto e se adapta a cada novo ciclo de experiências acumuladas e que, entretanto, resulta na sensação de que somos nós quem realmente estamos escrevendo cada um dos capítulos da nossa história pessoal e danem-se as tantas fantasias de felicidade.
Ser feliz é estar aqui e sermos o melhor que somos capazes de ser para nós mesmos.

9 comentários:

Valdemir Reis disse...

Amigo Mário estou visitando, parabéns pelo belissimo trabalho, excelente. Quem segue acompanhado de um amigo vai mais longe, muito além...
Compartilho o texto a seguir
“A amizade é assim:
É sentir o carinho,
É ouvir o chamado.
É saber o momento
de ficar calado.
Amizade é somar
alegrias, dividir tristeza.
É respeitar o espaço,
silenciar o segredo.
È a certeza
da mão estendida.
A cumplicidade que
não se explica,
Apenas vive!”
Olavio Roberto
Grato de coração por sua atenção e gentileza. Deixo votos de um fim de semana repleto de muitas alegrias, muitas bênçãos e que reine a paz, saúde e proteção, brilhe sempre! Fique com Deus. Encontrar-nos-emos sempre por aqui. Felicidades.
Valdemir Reis

Josiane disse...

Será que consigo levar adiante um blog? Acho que não, não sou tão disciplinada assim...
Agradeço imensamente pela oportunidade de ler um texto tão lindo e verdadeiro assim. Em uma época de sentimentos tão banalizados, de uniões que se desfazem com o vento, e em que uma roupa de grife é mais importante do que um amor ou amizade verdadeiros, é bom demais ler um texto que exalta os verdadeiros sentimentos, esses sim, são para sempre.
Acho que no fundo, a gente só quer ser feliz, não é mesmo? Mas às vezes é tão difícil...somos complicados, e por vezes custamos a ver o que está bem ao nosso lado, erramos tanto, cometemos injustiças, e o que é pior: Conosco mesmos.
Fica aqui a certeza de vale a pena seguir o coração, escutar o que ele tem a dizer e tentar viver buscando a cada dia o bem estar com quem a gente ama e que é tão essencial em nossas vidas...Como vocês dois!
Saudades imensas, abraço apertado, beijo carinhoso, da amiga de longe que não os esquece,
Josiane

Pena disse...

Admiráveis Amigos:
Um pensar, pura e simplesmente, notável. Fabuloso, que se lê com apurado interesse e delícia.
Excelente!
Realmente, a felicidade não se pode comprar. Sente-se. Não nos livros desadequados ou de apelos indevidos, mas com o eterno respeito pelos valores e princípios assentes numa Cidadania e num civismo exemplares e correctos.
Um texto Divinal.
Dou-vos os meus mais sinceros parabéns.

Abraço e Beijinhos, amigos, SEMPRE!
Com respeito, estima e admiração por tanto encanto vosso...

pena

Saio maravilhado, amigos!
Bem-Hajam pela preciosidade humana que são. OBRIGADO pela linda visita.

Dulce Miller disse...

Concordo com todas as palavras deste texto! Nem sobra muito para comentar, vocês já disseram tudo!

Beijão, uma ótima semana!

Tetê disse...

Oi amigos!Quando nascemos a felicidade vem dentro de nós em forma de semente. Geralmente, durante a infância essa semente desabrocha e cresce rapidamente. Depois o crescimento desacelera e quando adultos, esquecemos que temos que cuidar dela... Então, quando nos deixamos envolver pelas frivolidades da vida, passamos a viver de aparências e feliz mesmo, não! Sempre dá tempo de recuperarmos aquela frágil plantinha que restou da infância! Bjks e uma semana abençoada! Tetê

Leandro Capilluppi disse...

Seu texto realmente é ótimo, mas não saberei elogia-lo tão profundamente como o fizeram nos comentários anteriores, mas me fez refletir que ha algum tempo não tenho lápis para colorir em meu trabalho...não tenho saboreado minhas horas de labor, tem sido insípidos e escravos meus momentos naquele escritório. Mas no momento não tenho saída, ou melhor, a saída traria uma era conturbada pra minha família e não posso deixar isso acontecer.
Minha vida em família é um sonho, mas minha carreira na rua ainda é gris.
Obrigado pela oportunidade de lê-los!
Bj.

Regina disse...

Cris...

Somos a toda hora bombardeados pela mídia, sociedade, tecnologia...

Mas o que não podemos perder nunca é a nossa essência... por mais que o mundo mude, por mais que a sociedade mude, sem a nossa verdadeira essência, não podemos ser felizes de verdade...

Parabéns pelo texto, muito bonito e reflexivo...

Tenham uma ótima semana!!

Beijos!!

Ah!... e tenho selos para vocês lá no "Devaneios"...

Anônimo disse...

O texto todo é de uma beleza adorável, mas a frase final deve ser dita diariamente como um mantra.

Um beijo, queridos!!!!

Nilson Barcelli disse...

Como eu concordo com vocês, queridos amigos.
Ser feliz é correr o risco de colorir a nossa vida da forma como nós muito bem entendemos, foi o que mais ou menos disseram e eu subscrevo. Ainda que não seja nada fácil, devemos perseguir essa meta.

Um excelente semana para vocês.
Beijinhos e abraços.

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