junho 10, 2009

BESOURRICES


O velho Chico (nem tão velho assim), numa das suas formidáveis letras:

Todo dia ela faz
Tudo sempre igual
Me sacode
Às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca
De hortelã....
Cotidiano.
Rotina que consome a gente por dentro, sugando as entranhas, liquidando a vontade de viver, arriscar, tentar o novo em substituição ao antigo hábito que já se obsoletou por excesso do mesmo uso freneticamente diário. Algo assim de uma dialética menos confusa que a hipocrisia fundou para por odor de perfume novo na idosa flor. Essas rupturas internas, lotadas, que nos consomem sem que se permita que o outro perceba o que de fato somos.
Bons besouros, vamos levando nossas malas de pesado passado, arqueados pela força do vento da vida que pretende nos empurrar sabe-se lá pra onde ou porque, impulsionando nossas diferenças, inconstâncias e incongruências diretamente contra as nossas faces. Faces rasgadas pelos sulcos cavados com o pó do tempo, esta estranha pá da vida que pretende sempre nos afundar algo mais dentro de nós mesmos até fazer emergir aquilo que somos para perceber quanto estamos egocentricamente submersos.
Nem percebemos tanto peso. Apenas carregamos.
Carregamos casamentos falidos.
Carregamos desesperos sentidos.
Carregamos o passado.
Vez por outra até esperamos que a morte nos carregue para longe daqui, longe do dia, longe do frio, longe de tudo, principalmente longe, mas muito longe, de nós mesmos.
Talvez para ser diferente é que a gente tende a fazer tudo sempre igual, apesar de fazê-lo de outro modo, noutra parte, repleto de novas esperanças.
Quem sabe porque nesse tanto de peso algo haja realmente tão nosso, especial e único, que o simples fato de continuar fazendo aquilo que sabemos tenha o condão de nos fazer cada dia mais feliz.
Ou porque somos besouros rebelados contra o sistema.
Ou porque aprendemos a carregar o próprio peso.


8 comentários:

Rosana disse...

Cris e Mario,
Que alegria ver que vocês estão de volta, e sempre com uma boa reflexão e bons textos. Boa sorte e sucesso pra vocês. Estou muito feliz em ver vocês de volta.
Beijos,
Rosana

Adelino disse...

Cristiane e Mario.
Que agradável surpresa.
Lindo texto. Muito verdade nele contida. Às vezes, tal e qual um caminhante, damos uma parada, olhamos para trás, para os lados, olhamos o céu. Pensamos em desistir ou em voltar. Como não é possível retornar, as lembranças afloram. E retomamos a nossa caminhada cientes de que um dia chegaremos lá.
Um abração para vocês. Feliz final de semana prolongado...

Adelino disse...

Crstiane, gosto muito de fotografar e de fotografias. Meus parabéns ao Volnei pelo belíssimo trabalho.
Abraços.

Tetê disse...

Ah... que delícia! Eu estava com saudades! É verdade... a gente vai carregando "as malas" que a vida nos impõem mas eu sinto o peso! Tem umas, então, que pesam pacas!rs...rs...rs... Bjks prôces!

O Meu Jeito de Ser disse...

Eu volto para ler.
Ah! volto sim.
Beijos queridos.

Volnei Almeida disse...

Cris e Mário, que bom ver voces aqui novamente, afinal de contas o blog faz parte do "cotidiano" de voces.
Ah! Obrigado por me incluir nesse novamente!

Abraços. Estou com saudades.

Volnei Almeida

Daniel Savio disse...

Penso que eu seja um besouro que carrega o próprio peso, mas espera a morte jamais...

Que bom que voltaram.

Fiquem com Deus, menino Mário e menina Cris.
Um abraço.

Anônimo disse...

Queridos,

Bom ter vocês de volta...
O texto é lindo! Faz a gente refletir tantas coisas, acho que na maioria das vezes aprendemos mesmo a carregar o próprio peso.

Um beijo e uma ótima semana!!!

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