julho 14, 2009

DIOCLECIANO

O sol fecundo fazendo da terra brotar o fruto da semente. Mãos laboriosas revirando o solo. Cavoucando. Dia colorindo o suor que escorre pelas faces. Longas horas separam a dura realidade do sonho de estar ao lado da sua amada. Diocleciano sente um aperto no peito. Recorda a noite daquele outro dia. Espreita os próprios pensamentos. Aguarda. Enxada é sua companheira de antanho. É com ela que rasga o solo até estrangular o árido, até verter água pelas veias da terra, até saciar a sede do planalto. Tudo tão reto e estranho aos seus olhos. O horizonte é miragem que fascina. Árvores secas. Terra áspera. Espécie de sentimento de gente que a planta transpira. É mundo. É tudo. É simplesmente nada. Pessoas dependem dele. E de muita água. Falta água ou vida. A tarde cai como um zumbi sobre o seu túmulo silencioso. Nem todas as suas dores são reais. Sofre apenas. O peso da enxada se multiplica ao impulso do abatimento físico. Expurga do seu ser cada milímetro de mazela. É sonho que escorre em forma de vida que se foi. Custa-lhe contemplar aquele deserto. Se a seca tem cura ele desconhece qual seja. Secura que pode ser extinta só mesmo a do homem pela sua amada. Pouco antes do poente, ajeita a enxada sobre o ombro enquanto o lenço recolhe o suor da testa cansada. Caminha lentamente. Dentro do barraco que desponta na distância, Diocleciano sabe que ela o espera. No final do dia, acomodado a mesa do jantar, ele vê o seu futuro, presente e passado. Mergulha naquele olhar compreensivo. Permite que acaricie a sua mão calejada enquanto conta as novidades do dia sem nada de novo. Deliciosa sensação de alívio invade o seu peito e a alegria furta o lugar do desânimo. É então que a sua vida volta a ter sentido.

6 comentários:

Giane disse...

Oi, Cris e Mario!!!

Essa linda estória (podemos chamar de história, afinal, ela pode ser bem real)lembrou-me dessa:

http://www.flickr.com/photos/10paezinhos/3717147304/sizes/o/

O resumo: Amor.

Beijos mil!!!

Aninha Pontes disse...

É exatamente assim. Na alegria do amor, da convivência, do carinho, que se deixa para trás, toda a amargura, todo o sofrimento, toda a sensação de incapacidade, de impotência.
O amor nos faz fortes, nos faz duros para enfrentar intempéries.
Ele nos dá tranquilidade e leveza.
Beijos queridos.

Regina disse...

Olá, amigos!

Só o amor para aliviar dores e infortúnios...

O amor é o que salva...

Beijos!!

Leandro Capilluppi disse...

É!! O amor é muito poderoso! Eu mesmo, tem dias q minha vontade é pegar minha mochila e sumir deste trabalho que ñ me dá prazer... qdo chego em casa, basta eu olhar pro rosto da minha esposa, linda, meiga, saudosa de mim, e pro rosto da minha filha, doidinha pra começarmos a farrear, que parece que acabei de acordar...
BJ
Uma ótima sexta-feira!

Pena disse...

Oh, Lindos Amigos:
Um texto delicioso bem real.
As pessoas. O suor. A enxada. O sangue derramado na terra que jamais deixarão ao abandono.
Eu, apesar de ver isto como uma "dor", um "sofrimento", uma "doença" que deixa marcas, conheço bem os seus meandros. Nasci num destes locais onde a força avassaladora do trabalho árduo era óbvia de paixão. A fome apertava. A miséria dessas gentes era uma verdade visível.
Muitos partiam para o estrangeiro, mas logo regressavam e voltavam ao mesmo. De forma sentida. Suada.
Parabéns, extraordinários e sensíveis amigos de sonho. Adorei!
OBRIGADO pela vossa simpatia expressa no meu blogue.
Um texto poderoso de sentimento e encanto.
Abraço e Beijinhos de um respeito do tamanho do mundo.
Sempre a admirar-vos e a estimar-vos.
Maravilhado pelo vosso encanto...

pena

Têm um blog maravilhoso.
Bem-Hajam, fabulosos amigos.
MUITO OBRIGADO pela amabilidade e simpatia!

Giane disse...

Oi, Cris e Mario!

Perdoem o abuso, mas preciso de um favor.
Deixei uma pergunta no Alfarrábio e estou pedindo aos Amigos de Boas Palavras que - se possível - respondam por lá.

Desde já, Agradeço a ambos!

Beijos mil!!!

Blog Widget by LinkWithin