julho 26, 2009

MARCAS NA PELE

Quem sabe a vida na sua eterna arca de sonhos onde permeiam as miragens ou a morte naquele silêncio que dela herdamos... dia ensolarado, noite escura... quem sabe possam explicar o indecifrável código cifrado do universo amoroso: laços de relacionamento que se propagam no tempo, acendem e apagam, risos e choros, constroem e destroem, semeiam e colhem, aquecem e esfriam, abraçam e distanciam, assim sem mais nem menos, sendo apenas aquilo que é.
Quem sabe o poeta na sua incontida alma angustiada com tanta rima sem fonema, traços transbordantes de emoção sem cor, palavras pescadas em pleno universo de sonhos encruados pela realidade, coração partido pelos amores rasgados que se foram, cérebro gemendo de dor na noite calma que precedeu ao incendiário rubor dos lençóis emaranhados... tão grudados um no outro que não se poderia dizer onde ele começava, onde ela terminaria, até que, meio segundo antes do amanhecer, sentiu-se tão solitário quanto sua poesia sem forma, sem cor, sem fantasia, formoso conjunto de vocábulos que palavra alguma poderia dizer.
Quem sabe o artista na sua fome de vida pincelada em tela branca, na tresloucada ânsia de traduzir o que sente, na vontade de conter a cena plástica enquadrando-a ou moldando-a como se fosse capaz de criar o que não viu, plasmando sentimentos em nuances de tonalidades diversas, buscando na forma o interior conteúdo, imitando o Criador ao construir na tela o mesmo mundo que aquele fez como se retratar se assemelhasse a criar, como se criar pudesse explicar o incompreensível sentimento que não o deixa dormir.
Quem sabe o médico que apenas identifica os sintomas. Já viu outros casos semelhantes e até se preocupou em catalogá-los. Resumiu assim: "Relacionamento amoroso é semelhante a varíola. Surge quando menos se espera. Progride de modo acelerado. É provável que o paciente sobreviva a ele, todavia, as marcas permanecerão na pele".
Ou não.
Quem sabe toda teoria amorosa não passe de teoria.
Quem sabe talvez baste se entregar, deixar fluir como o rio caudoloso que atravessa cidades e estados.
Quem sabe a resposta esteja nessa sensação de paz, alegria, harmonia, felicidade... independente do que ocorre à nossa volta, simplesmente fluindo como a vida deve sempre fluir, atravessando a vida, sobrevivendo à morte, inspirando rimas fonéticas ou não, criando obras de arte que seja ou não esteticamente artistica, tecendo teorias concretas para explicar abstrações emocionais, possibilitando que nessa versátil miscelânia de nós mesmos com outra pessoa possamos encontrar nem tanto o que somos mas, quem sabe, alguma felicidade que nos complete com tão grandes esperanças que nossas eventuais marcas na pele tão somente tenham cor, forma e sabor de amor.

5 comentários:

Nilson Barcelli disse...

Quem sabe, meu amigo. Quem sabe...
O que sei é que as marcas na pele são incontornáveis.
E também sei que este texto é excelente. Parabéns.
Abraço.

Pena disse...

Admiráveis Amigos:
Uma narração fabulosa e extraordinária de um quotidiano, repleto de sentires, sentimentos, emoções.
Verdadeiramente, notável. Chega a ser genial e brilhante, é como o classifico.
As palavras saltitam com mestria, pureza, beleza e maravilham.
Os meus sinceros parabéns. Adorei! Excelente.
Tudo fluí docemente com magia literária fascinante.
Abraço e beijinhos amigos.
Continuem. Vão longe.
Com deslumbre por tudo aqui.

pena

OBRIGADO pela vossa simpatia a que faço uma vénia agradecida.
Bem-Hajam, talentosos amigos imprescindíveis.

Dulce Miller disse...

Nossa!!!
Tô tão emocionada que hoje confesso que não vou ler o texto, só vim correndo pra não esquecer de agradecer o carinho de vocês!

MUITO OBRIGADA, SEMPRE!

Anônimo disse...

Como sempre lindo!
aah Cris eu eu exclui aquele outro Gadjet da essencia em arte e coloquei outro, nesse eu posso colocar a imagem q eu quizer :)

beijão

Alfredo Rangel disse...

Ah, a eterna, persistente usca para se compreender o amor. Simples, o amor é sombra, é vento, é o constante entardecer. O amor é o som de cada palavra, é a vida a se aquecer. Simples, o amor é o germinar daquela flor, a paz daquele ermo, o brilho de cada estrela. Simples...
Adorei o blog de vocês. Voltarei sempre. Me faz muito bem respirar o perfume das flores que aqui brotam.
Obrigado pela visita e um grande abraço aos dois.

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